quinta-feira, 18 de setembro de 2008

APRENDIZAGEM NA ERA DIGITAL A PARTIR DO HIPERTEXTO


Nos primórdios da história da escrita, o espaço de escrita foi à superfície de uma tabuinha de argila ou madeira ou a superfície polida de uma pedra; mais tarde, foi a superfície interna contínua de um rolo de papiro ou de pergaminho, que o escriba dividia em colunas; finalmente, com a descoberta do códice, foi, e é, a superfície bem delimitada da página – inicialmente de papiro, de pergaminho, finalmente a superfície branca da página de papel. Atualmente, com a escrita digital, surge este novo espaço de escrita: a tela do computador.(SOARES, 2002, p.149).

Conforme situa Magda Soares atualmente o hipertexto concretiza a possibilidade de tornar seu usuário um leitor inserido nas principais discussões em curso no mundo ou, se preferir, fazê-lo adquirir apenas uma visão geral das grandes questões do ser humano na atualidade. Certamente, o hipertexto exige do seu usuário muito mais que mera decodificação das palavras que flutuam sobre a realidade imediata (XAVIER, 2004,apud TEIXEIRA,2006, p. 95).

Repetidas vezes tem-se observado os discursos realizados em torno dos meios de comunicação e do mundo digital, enfim dos meios tecnológicos capazes de propiciar práticas de leitura e, conseqüentemente, de fomentar a troca de idéias entre as pessoas, o que impulsiona a necessidade de potencializar os professores para ensinar a ler e a escrever ante a possibilidade de materiais de leitura utilizados pelos alunos estarem em formato eletrônico. Assim, acreditamos que o comportamento humano tem, ao longo dos anos, sido afetado de todas as formas, pelo movimento acelerado que as novas tecnologias da informação e da comunicação vêm proporcionado ao homem, pois no que se refere aos usos da linguagem, os sujeitos têm, atualmente, em sua volta, recursos capazes de propiciar maior dinamicidade, gerando possibilidades de autonomia discursiva, como também novas formas de agir e interagir com a leitura.

Para alguns autores, o hipertexto é a morte da Literatura e para outros é a sua apoteose com caminhos totalmente abertos e escolhas infindáveis propiciando um texto de múltiplas conexões, ou seja, a relação do labirinto literário. Seria a simbiose completa de autor e leitor, tendo em vista se complementarem nas escolhas e todas as leituras tornar-se-iam simultaneamente produções singulares (MARCUSCHI, 2000, apud TEIXEIRA,2006, p. 97).

As definições acima são importantes para compreender o termo hipertexto, bem como compreender a conceituação apresentada por Theodor Holm Nelson (1964, apud TEIXEIRA,2006, p. 97), que o designa como uma escritura eletrônica não-seqüencial e não-linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um numero praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sensíveis, em tempo real.

Dessa forma, convém apresentar a tipologia hipertextual proposta por Michael Joyce (1995, apud TEIXEIRA,2006, p. 97-98).

a) O hipertexto exploratório – mantém a autoria original, mas encoraja e permite uma audiência (os navegadores) controlar a transformação de um corpo de informações para suprir suas necessidades e interesses, criando seqüências próprias. Essa transformação de ordem pode incluir a capacidade de criar, mudar e recobrir encontros particulares com um corpo de conhecimentos, mantendo esses encontros como versões de material.

b) O hipertexto construtivo – evapora a autoridade do autor, original e requer a capacidade de agir, recriar, recobrir encontros particulares co o desenvolvimento de um corpo de conhecimento. Esse tipo de hipertexto requer representações visuais e pessoais do conhecimento desenvolvido,como, por exemplo, uma narrativa, em que podem ser acrescentados novos personagens, novas tramas e orientações.

Os dois tipos aqui destacados colocam em pontos opostos a hipertextualidade, tendo em vista apresentarem características opostas, pois o hipertexto exploratório deixa os navegadores livres para realizar suas escolhas. Nesse caso, este se encontra em uma categoria definida para leitores que buscam conhecimentos, informações, procurando-se conservar a autonomia do produtor do texto original. É um tipo de hipertexto que será direcionado para suprir as necessidades se seus usuários, no que se refere a sua prática, enquanto pesquisador.

Partindo do princípio de que toda produção textual resulta da filtragem de informações feitas pelo leitor durante o seu percurso pelos mais variados textos , é que e intertextualidade é apontada como mais uma característica do hipertexto, pois, para Bakhtin (2003, p. 60), e intertextualidade é uma constante no processo de escritura, uma vez que um dado texto constitui-se de um entrecruzar de outros.

Conforme assinala Parente (1999, p. 87):O hipertexto vai favorecer a intertextualidade em todos os seus níveis da qual este se dá a ler como uma rede de interconexões. A idéia geral é a de que o texto não tem um sentido que preexistiria a sua leitura. Pela intertextualidade, podemos dizer que é a leitura que constrói o texto. Na verdade, a intertextualidade constitui uma forma de pensamento em rede que se contrapõe à ideologia de uma leitura passiva guiada pela ordem dos discursos.

Nesse sentido, faz –se necessário reconhecer o papel do leitor, enquanto ser capaz de penetrar no texto, com vistas a resgatar sentido, preencher lacunas, reconstruir o universo textual, a partir de pistas e aberturas que lhes são conferidas, pois o leitor age de forma cooperativa, recriando e acrescentando ao texto aquilo que está omisso. Em relação à recriação textual, Maingueneau (1990, apud TEIXEIRA,2006, p. 100).assinala dois movimentos:
a) um movimento de expansão: por ser lacunar, o texto permite a proliferação de sentidos;
b) um movimento de filtragem: o locutor, através determinadas estratégias, restringe essa proliferação, levando o leitor a selecionar e interpretação pertinente. O leitor situa-se, portanto, num espaço ambíguo entre a disseminação de sentidos possíveis e a polissemia – e a conexão, restrições inscritas nos artefatos que organizam o texto.

Podemos afirmar que a distinção entre leitores e escritores parece ser essencialmente uma distinção entre textos baseados na tecnologia da impressão e o hipertexto informático, como afirma Barthes, porque "o hipertexto preenche o objectivo do trabalho literário que é tornar o leitor não mais um consumidor, mas um produtor do texto."

Referências:
BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. de J.Guinsburg. São Paulo: perspectiva, 1987.
MARCUSCHI, Luis Antonio; XAVIER, Antonio Carlos. (org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna,
SOARES, Magda. Novas Práticas de Leitura e escrita: Letramento na Cibercultura. São Paulo: UNICAMP, 2002, p. 194.

TEIXEIRA, M. A. Hipertexto e Práticas Leitoras na Aprendizagem, São Luis: UEMA, 2006.

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